MANIFESTO DO DR. ENÉAS

O DESAPARECIMENTO DA AUTORIDADE

O Brasil vive, em nosso tempo, um momento crucial de sua história como nação, talvez o pior, se a análise for feita em termos de alguns parâmetros como economia, educação e saúde. Esmagado pela pressão de seus credores internacionais, assolados por crises internas, o país vem mergulhando, na última década, em um processo de indefinição política onde é notória a ausência de autoridade em tudo aquilo que se faz ou que se planeja fazer.  De ação centralizadora, das décadas de 60 e 70, que esmagava o livre pensamento e silenciava as vozes de oposição, chegou-se, num processo dialético, a sua antítese, a não-autoridade, a não-decisão, a não-realização, a inação, a quase anarquia. O País está à beira do caos.  A ação de qualquer grupamento social - de uma escola, de um hospital, de uma empresa, enfim, de qualquer organização dentro da sociedade - e, em última análise, o reflexo do que se passa no vértice da pirâmide social, ou seja, no Governo. 

Todo poder existe para ser efetivamente exercido. E convivemos todos nós, neste País, com uma absoluta crise de autoridade diante dos acontecimentos que têm chocado a nação nos últimos tempos,alguns até com repercussão internacional, todos divulgados à farta pela imprensa. Procuram-se e não se encontram os responsáveis diretos pelos fatos. A responsabilidade se dilui, como está diluída a autoridade.

É FUNDAMENTAL QUE SEJA RESTAURADA A AUTORIDADE EM TODOS OS NÍVEIS DE AÇÃO PÚBLICA E, COM ELA, A RESPONSABILIDADE. NÃO EXISTE AUTORIDADE SEM RESPONSABILIDADE. A EXISTÊNCIA DE UMA IMPLICA A OUTRA.

A DESORDEM

Implicado no desaparecimento de diversas formas de autoridade, e dele decorrente, veio diminuindo, "pari passu", o respeito a lei e crescendo a desordem, que se sobrepôs, pouco a pouco, às leis vigentes.
Leis, há muitas.  Simplesmente elas não são cumpridas. Com o desrespeito à lei, instalou-se a desordem, tornando-se impossível, à ausência de ordem, o desenvolvimento de qualquer atividade produtiva. A inépcia administrativa, a desídia no cumprimento das obrigações, a incúria na realização de qualquer tarefa prendem-se, necessariamente, ao desaparecimento do binômio autoridade-ordem.  

A desordem tornou-se regra no pais - desordem política, desordem administrativa, desordem econômico-financeira, desordem moral.   O estado de absoluta desordem em que vive o país se encontra, bem como o mau exemplo que chega a sociedade vindo do poder constituído, estimulam o que de pior existe no ser humano - a ganância, a corrupção, a necessidade de ganho fácil, a desonestidade - criando uma sociedade onde impera o ódio, a violência, a desconfiança, a não-cooperação, enfim, criando não apenas uma sociedade onde existe a natural luta de classes, mas, isto sim, um bando desordenado onde cada um, desesperadamente, decide lutar pelos seus próprios interesses numa corrida desenfreada de salve-se quem puder, um lutando contra o outro, sem nenhuma perspectiva, sem nada a ser divisado no horizonte, uma vez que tudo aponta numa direção só - de uma desordem maior. 

A crise não é apenas de um estrato da sociedade. Não é crise de operários, de bancários, dos comerciantes, dos industriários, dos securitários, dos professores, dos médicos, dos engenheiros, dos empresários. É uma crise de toda sociedade.  A sociedade brasileira está doente. Padece de um quadro de atetose, expressão que traduz, em linguagem médica, uma certa forma de incordenação motora. Os diversos segmentos da sociedade, desarticulados, debatem-se, em paroxismos espasmódicos, cada um tentando sobreviver ao verdadeiro estado de choque em que se encontra a nação.

Do jeito em que estamos, como um navio sem rumo, soprado pelos ventos do neoliberalismo econômico, cada um entregue à sua própria sorte, não chegaremos a lugar nenhum, a não ser que a sociedade, como
um todo, se una em torno de uma idéia central, para que possamos emergir do fundo do oceano de inópia cultural, em que todos nós estamos mergulhados, para uma situação de ordem, com justiça social, ordem que não será eterna,porém que, ao concluir o seu ciclo, nos deixará em um patamar mais elevado da condição humana.

URGE RESTABELECER A ORDEM NO PAÍS

OS EMPRESÁRIOS

Nenhuma das camadas, nenhum dos grupamentos sociais do País é diretamente culpado do que está ocorrendo. Os empresários têm sido apontados como os responsáveis diretos pelo sofrimento da classe
trabalhadora. No entanto, eles têm freqüentemente os preços de seus produtos e serviços, pelo menos do ponto de vista teórico, limitados, controlados e vigiados. E, ao mesmo tempo em que pagam salários, são tributados proporcionalmente a sua folha de pagamento de forma as mais variadas, fazendo crescer, na mesma razão, a arrecadação dos órgãos governamentais, exaurindo, desta forma, a capacidade de acumulações de capital e, com isso inviabilizando os investimentos.  Muitos empresários já reconheceram, através da imprensa, que não são os salários que representam os maiores custos de suas empresas.

Esta é a razão principal por que a atividade empresarial está cedendo o lugar para a atividade especulativa. Não há mais estímulo para nenhuma atividade produtiva no País. As empresas pagam impostos elevadíssimos, e o governo, que os arrecada, só estimula as aplicações a curtíssimo prazo, que remunera o capital improdutivo e esquece o trabalho, prejudicando o sociedade como um todo.

É FUNDAMENTAL ESTIMULAR A ATIVIDADE PRODUTIVA NO PAÍS

OS TRABALHADORES E AS GREVES

Se, por um lado, os empresários não se sentem seguros para investir e aguardam, a cada instante, uma nova mudança na regra do jogo, os trabalhadores assalariados, por sua vez, encontram-se em situação infinitamente pior - vendo sua remuneração seer progressivamente, em valor real, cada vez mais reduzida, a população trabalhadora, particularmente a de baixa renda, torna-se mais e mais empobrecida, seu trabalho não dá retorno financeiro nem social adequado, seu padrão de vida cai continua e inexoravelmente... e ela
apela para o único instrumento legal, constitucional, de que agora dispõe: a greve.

A greve é um direito inalienável do trabalhador, respaldado, inclusive pela Constituição. Mas ela é um remédio amargo que só deve ser usado em casos extremos. Greves, como estas a que todos vimos assistindo, paralisando, por exemplo atividades de educação e de saúde durante meses, podem servir a tudo, podem servir até como instrumento político, menos ao fim básico para o qual foram deflagradas. E assim se chega a um paradoxo curioso. Como quase todas as categorias, reivindicando suas pretensões, só conseguem ser ouvidas, atualmente, através do instrumento de greve - democrático, constitucional -, a cada mês, às vezes a cada semana e, por vezes, mais de uma vez por semana, o povo é surpreendido pela paralisação de um dos Serviços de que depende para sobreviver - sucedem-se as greves dos aeroviários, dos aeronautas, dos bancários, dos rodoviários, dos ferroviários, dos metroviários, dos garis, dos professores, dos médicos, dos coveiros, etc. 

O paradoxo consiste em que a arma que deveria ser usada contra o poder constituído passa a ser, em última análise, dirigida contra quem a usou - assim é que, nas diversas classes sociais, os grevistas, muito embora lutando por um seu interesse legítimo, de vítimas que realmente são, passam, no entanto, a ser responsabilizados pelos prejuízos que o seu movimento acarreta para a sociedade. São eles agora os culpados. E já há quem comece a perguntar: Até onde vai tudo isso? Será que não existe outra forma de atingir os mesmos objetivos? E a nossa resposta é que, mais uma vez, a culpa é toda da Direção do País.
Parece, a qualquer observador não comprometido com o sistema, que não existe determinação, não há vontade ou coragem de decidir. Toda decisão implica um desgaste energético, mas é imperioso que ela seja tomada, em qualquer instante. Essa tese vale em qualquer nível de comando, até para dirigir uma embarcação. E o Brasil é uma nau sem timoneiro e, por assim ser, é uma nau sem rumo.

CUMPRE IMPRIMIR-LHE UMA DIREÇÃO. MAS UMA DIREÇÃO FIRME, SEM INDECISÕES, SEM CONIVÊNCIAS. UMA DIREÇÃO NA QUAL TODA A SOCIEDADE ACREDITE E DA QUAL TODA ELA PARTICIPE.

A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

Não há dúvida que a distribuição de renda, em nosso País, é de impressionar qualquer cidadão com um mínimo de formação humanística -o chamado piso salarial, calculado para todo o Brasil, não permite suprir um indivíduo quanto mais uma família, em qualquer ponto do território nacional, com as necessidades básicas a que um ser humano tem direito para uma sobrevivência digna. E isso para uma pessoa que trabalha, produz e paga INSS - compulsoriamente. A não correspondência entre o trabalho realizado e a remuneração exigida para as condições mínimas de sobrevivência abre as comportas para a torrente da economia marginal, da contravenção e do crime. 

 Não há estímulo para o trabalho sério e honesto. Acresce ainda o fato de ser cada vez menor o mercado consumidor interno, face ao estrangulamento do poder aquisitivo da classe assalariada, que produz e vê esvair-se o produto do seu trabalho no comércio exterior, considerado indispensável para a nação, e que serve, em tempos atuais, somente para pagar os juros da divida externa. O trabalhador no Brasil e um escravo que não tem acesso ao resultado do seu próprio trabalho.

O PISO SALARIAL TEM QUE SER A IMPORTÂNCIA SUFICIENTE PARA SUPRIR UMA FAMÍLIA COM O MÍNIMO NECESSÁRIO À SOBREVIVÊNCIA COM DIGNIDADE - O DIREITO A UM TETO, À ALIMENTAÇÃO, À SAÚDE, À EDUCAÇÃO E AO VESTUÁRIO.

Além disso, as distorções na esfera salarial dos brasileiros, particularmente no Serviço Público, são deveras preocupantes. Enquanto a maior parte da população, constituída de profissionais de nível de instrução de primeiro e segundo grau, sem formação técnica especializada,ganha entre um e cinco salários mínimos, os detentores do poder, principalmente aos políticos eleitos - classe privilegiada - recebem remunerações que chegam a 100 vezes o piso salarial do pais. E isso aliado a um sem-número de vantagens, como, inclusive, o uso de carro oficial - para quê? Ao que nos conste, apenas diretores de grandes empresas, recebem estipêndios dessa monta. Nem os cidadãos diplomados - médicos, engenheiros, advogados, etc. - após longos cursos universitários e de pós-graduação, e efetivados na União mediante concurso, chegam a esse
patamar. Nem os oficiais-generais após um quarto de século de serviço ativo nas Forcas Armadas.

HÁ QUE SE REVERTER ESSE QUADRO

A CHAGA SOCIAL

Por outro lado, um problema que assume, em tempos atuais, proporções gigantescas é o do menor abandonado. Cresce, dia a dia, o número de crianças, de todas as idades, nas ruas, pedindo esmolas, vendendo balas, revirando latas de lixo, cheirando cola, furtando e, no final da linha, praticando assaltos a mão armada.  Egressos de famílias onde campeia a miséria, situação em que saciar a fome é o imperativo categórico, essas crianças, hoje em número de milhões no País, formam uma tuba que se movimenta ora em pequenos grupos, ora em bandos, caminhando, passo a passo, para ser integrada no grande círculo do crime organizado. Mais um grupo social, de vítima, passa a algoz.

 O ódio acirrado contra a sociedade cujos filhos têm casa, comida, vestuário, educação e lazer vai transformá-las, cedo ou tarde, em delinqüentes perigosíssimos que matarão por um relógio ou uma pulseira.  Reconhecemos que a situação de um problema dessa ordem implica um esforço estrenia dos dirigentes e de toda a sociedade no sentido de resgatar essa dívida social, que é de todo povo brasileiro.  O Brasil só é acordado, sacudido, através dos noticiários da imprensa, pelos problemas agudos - enchentes, desmoronamentos etc. - O menor abandonado, com todo o sofrimento e a tristeza que o acompanham, é um problema crônico do País.

É PRECISO UNIR TODA A SOCIEDADE - ACORDÁ-LA COM UM BRADO FORTE PAARA DEFLAGAR UM PROCESSO VISANDO A ACABAR COM ESSA CHAGA SOCIAL.

REFORMA AGRARIA

Distanciado, até certo ponto, dos pequenos benefícios sociais a dura-penas conseguidos pelos trabalhadores das grandes cidades, está o homem do campo, o trabalhador rural.  A reforma agrária é um antigo anseio da população rural do País. Ela é um instrumento básico para a fixação do homem no campo e para evitar o êxodo rural, com o conseqüente superpovoamento das grandes cidades, que se tornam megalópolis não mais administráveis.  E, curiosamente, se é indiscutível a testificação do crescimento do setor agrícola no Brasil, apesar disso é fato notório que se assiste, permanentemente, a migração do homem do campo para a metrópole, em busca de condições de sobrevivência, uma vez que, no campo, sua condição de vida continua sendo medieval.

SÓ UMA MUDANÇA GERAL NO PLANO DE DIREÇÃO POLÍTICA DO PAÍS PODERÁ PROPICIAR CONDIÇÕES PARA RESOLVER O PROBLEMA CRÔNICO DA REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL.

A EDUCAÇÃO

A educação, esteio de uma sociedade de jovens, chegou a níveis críticos, inaceitáveis frente aos recursos gigantescos que são mobilizados pelo erário público, para outros fins. E a falha no processo educacional é visível em todos os escalões - do primeiro grau à universidade. Neste particular, no cenário de onde podem ser pinçados diversos aspectos da educação, vale ressaltar o que vem acontecendo com a língua Pátria.
Triste a condição a que chegou o vernáculo, que num processo de deterioração progressiva, vem sendo relegado à condição de um  problema sem nenhuma importância em todos os meios. Fala-se muito mal no Brasil. E escreve-se pior. Raro é o periódico onde, a cada caderno e, às vezes, a cada página, não podem ser assinalados erros imperdoáveis na escrita da nossa própria língua.   E como, em quase todos os lugares, nos jornais, no rádio, na televisão, nos avisos colocados nas ruas pelo Governo, nos impressos em geral, particulares e de órgãos públicos, quase sempre há erros de sintaxe e até de ortografia.

É impossível a qualquer cidadão que não tenha tido uma educação esmerada no que concerne o Português saber se está diante do certo ou do errado, uma vez que, no seu espírito, ambos se confundem.  De tanto ver repetidos erros, os brasileiros com eles se habitua, incorpora-os e passa a defendê-los como fossem prioridade sua, afastando-se, cada vez mais, das formas genuínas de falar e escrever, e perdendo aquilo que, mais que qualquer outro traço cultural, a língua lhe confere - a sua identidade como cidadão. A língua é o maior de todos os patrimônios de um povo. Desrespeitá-la é desrespeitar a própria nacionalidade.

O desrespeito à língua caminha junto com o desrespeito às outras instituições do país. É mais um exemplo de deterioração da sociedade.  Pode parecer que se está exigindo, de certa forma, que o povo tenha erudição na língua portuguesa, mas não é essa a questão. É de ser exigido, isto sim, o mínimo de conhecimento do vernáculo, mínimo que, outrora,era ministrado nos cursos primário e secundário.  Mas hoje, infelizmente o ensino de 1° e 2° grau não atende mais a essa finalidade. Como tudo o mais no Brasil, a correção da linguagem não tem nenhuma importância. Nada tem importância.  

O fracasso no ensino de 2o. grau evidencia-se nos exames vestibulares. Em 1988, no Rio de Janeiro, no vestibular integrado UFRJ-UERJ-Cefet, foi desastroso o desempenho dos jovens, que, entregues a sua própria sorte diante das provas, deram o testemunho fiel daquilo que se tornou a educação em um país onde nada tem importância: de 94.039 candidatos inscritos, 37.433 não compareceram para fazer os exames, 22.240 tiraram nota zero em pelo menos uma das provas e 10.835 deixaram pelo menos uma prova em branco.  Apenas 10.775 ( cerca de 11% de todos os inscritos) conseguiram a nota mínima para a 2a. fase do vestibular - e a nota mínima era 3.

É PRECISO QUE SEJA FEITA, COM A MÁXIMA URGÊNCIA, UMA REFORMA DE BASE NA EDUCAÇÃO DO PAÍS, EXIGINDO O CUMPRIMENTO, DE FATO, DE UM PROGRAMA CURRICULAR MÍNIMO PELOS DOCENTES EM TODOS OS NÍVEIS.

A SAÚDE

A Saúde no pais chegou a uma situação deplorável. Não existe, no sentido estrito do termo, medicina preventiva no Brasil.  São assustadores os índices de recrudescimento de certas endemias que deveriam estar, de há muito, derriscadas do território nacional.  A assistência médica, que deveria ser prestada pelo Governo em retribuição aquilo que é arrecadado compulsoriamente de todos os trabalhadores, é pouco eficaz.  Ao lado de alguns grandes hospitais, com aparelhagem moderníssima, sofisticadas e caríssimas, que competem com grandes centros médicos de países desenvolvidos, estão unidades assistenciais totalmente desprovidas dos mínimos recursos básicos necessários e indispensáveis para a assistência médica primária da grande maioria da população brasileira.

O Brasil, em documento publicado pela UNICEF, ocupa o 65o. lugar do mundo, quando se utiliza a taxa de mortalidade de menores de 5 anos (TMM5) - 87 crianças entre 1.000 nascidas vivas, morreram antes de completar 5 anos. É uma taxa próxima daquela do Irã e do Vietnã, mas muito distante dos índices da Suécia e da Finlândia, onde a TMM5 e de 7 por 1.000. Por outro lado, no que concerne a remuneração profissional, os médicos não constituem uma exceção dentro de quadro geral de trabalhadores do País. Muito ao contrário, chega a ser aviltante a condição salarial a qual foram guindados profissionais que detém, no mínimo, 18 anos de vida escolar, isso sem levar em conta o investimento extraordinário que é feito nos tratados de Medicina, que são, indiscutivelmente, os mais caros dentre todos os livros de educação Superior no país.  

As condições de trabalho dos profissionais de saúde, no Brasil, quando o observador se afasta dos grandes hospitais - e mesmo em alguns deles - são precaríssimas. Não se pode dizer que faltam todos os recursos ao mesmo tempo. Mas, numa observação honesta, seqüencial, falta,simplesmente, tudo. E falta, também, coragem, da maioria dos dirigentes, para vir a público e reconhecer essas verdades, que são meridianas para toda a população. Só não são claras para os governantes.

O MÉDICO DEVE TER SUA IMAGEM PROFISSIONAL RESTABELECIDA NA SOCIEDADE. NELA, CADA CIDADÃO DELE DEPENDE DESDE O SEU NASCIMENTO ATÉ O MOMENTO EM QUE, AO SE DESPEDIR DO MUNDO, NECESSITA DO SEU ÚLTIMO DOCUMENTO, O QUE VEM NECESSARIAMENTE ASSINADO POR UM MÉDICO - O ATESTADO DE ÓBITO

OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

Como não há ninguém responsável por nada que acontece no País, a crise é atribuída ora a um, ora a outro segmento da sociedade e, nos últimos tempos, um ataque acirrado tem sido feito a classe dos funcionários públicos.  Não há dúvida que a máquina administrativa do Governo é gigantesca, ineficiente, disforme, desarticulada e emperrada. Toda falha dessa máquina é atribuída ao funcionário público. Mas ele é, também muitas vezes, um funcionário mal pago. E não lhe cabe a responsabilidade global por todos os adjetivos que possam ser imputados a máquina. Ela não nasceu por geração espontânea. Foi, pouco a pouco, sendo criada, educada, cultivada num ambiente geral de favoritismo, com o exemplo vindo de cima, e se encontra, atualmente, tão viciada, que somente uma ampla reforma administrativa poderá fazê-la funcionar de modo harmônico, sem redundâncias, e torná-la proficiente, Os funcionários públicos, atualmente em descrédito - como os médicos, os professores, os motoristas, enfim, como qualquer classe de trabalhadores no País - não são mais respeitadoss, mas poderão voltar a sê-lo, desde que se tornem motivados, desde que a sociedade toda se una em torno de uma idéia central, de reedificação do país.

Os militares estiveram governando a nação desde 1964 até 1985.  Foram duas décadas sobre as quais muito já foi dito e escrito, sendo, hoje, axiomático que não foi um período de felicidade para o povo brasileiro.
Mas o poder já foi devolvido as autoridades legalmente constituídas para exercê-lo.   E, se elas não o exercem, desta vez, pelo menos, a culpa não é dos militares.

É IMPERIOSO, AGORA, QUE O PODER CIVIL SEJA EXERCIDO COM FIRMEZA. A TURBULÊNCIA SOCIAL, FRUTO DA DESORDEM, A ANARQUIA, O CAOS, PODEM LEVAR, EM UM MOMENTO DO FUTURO NÃO MUITO DISTANTE, O PRÓPRIO POVO, ATRAVÉS DE MUITOS DE SEUS ÓRGÃOS, A PEDIR A AJUDA DOS MILITARES PARA RESTAURAR A ORDEM.

A DÍVIDA EXTERNA E A DÍVIDA INTERNA

Fato conhecido de todos os brasileiros é o montante astronômico da dívida externa do País. É a maior dívida externa do mundo, orçado em torno de 112 bilhões de dólares (base 1.988).   Utilizando-se notas de 10 dólares, uma ao lado da outra, a fileira assim constituída ocuparia uma extensão de 1.736.000 km. distancia
que equivale a cerca de 4 vezes a distância da Terra à Lua.  A questão da dívida externa, pelas suas implicações sociais e políticas, ocupa diariamente os cabeçalhos da imprensa. Já é quase consenso geral que não há como pagar essa dívida.

(EIS O PORQUÊ DA NECESSIDADE DA BOMBA ATÔMICA!)

Sério, mesmo, é o pagamento do serviço da dívida - um montante de juros que chega a 12 bilhões de dólares por ano, importância que é extorquida do povo, levando-o a uma condição de empobrecimento indiscutível. Por outro lado, a dívida interna, decorrente principalmente da colocação abusiva e descontrolada de papéis do Governo com a finalidade de financiar o seu déficit e o serviço da própria dívida, representa mais um mecanismo de sucção dos recursos das classes produtivas, como um verdadeiro cancro fagedênico a corroer as entranhas da nação.

URGE QUE O BRASIL SEJA DIRIGIDO POR UMA VONTADE FIRME, RESPALDADA PELO APOIO DE TODA A SOCIEDADE, CAPAZ DE ESTABELECER UMA NEGOCIAÇÃO DA DÍVIDA EXTERNA EM NÍVEIS TOLERÁVEIS PARA O PAÍS, E REDUZIR A DÍVIDA INTERNA EM FUNÇÃO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA, DA EFICIENTE UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS PÚBLICOS E DE UMA ADEQUADA E JUSTA POLÍTICA TRIBUTÁRIA E FISCAL.

A QUESTÃO ECOLÓGICA

Mas do que em qualquer outra época, o homem tem voltado sua atenção, nos últimos anos, para a sua própria casa - a natureza.   Na Europa, nos Estados Unidos e, mais recentemente, no nosso País, a preocupação com as questões ecológicas têm assumido tanta importância que já foram criados órgãos especiais do Governo destinados ao exame desse tema.  Ao lado da poluição dos grandes centros urbanos, das secas do Nordeste e de outras questões do meio-ambiente nacional, reveste-se da maior importância, atualmente, o problema especifico do Governo destinados ao exame desse tema. Para a análise de todos os aspectos a considerar na solução desses problemas, não se deve prescindir da ajuda de outros países.
Mas, em qualquer que seja o caso, sob nenhuma hipótese poderá ser ferida a soberania nacional.

O BRASIL É IMENSO, É UM PAÍS-CONTINENTE, MAS O QUE FAZER COM SUAS MATAS E SEUS RIOS É DECISÃO QUE CABE EXCLUSIVAMENTE AO POVO BRASILEIRO.

OS JOVENS E O FUTURO DO PAÍS

Nesse contexto, do naufrágio de todo o sistema político-administrativo-econômico do pais, quais as perspectiva que entreve um jovem, um adolescente, ao planejar sua vida? Convivendo, dia a dia, com os editoriais da imprensa, que, livre, finalmente, noticia a avalanche de inconsequências que se derrama sobre a sociedade, vendo crescer o valor da iniquidade, vendo estiolar-se, pouco a pouco, o valor do trabalho produtivo, os jovens constituem uma geração marcada por uma época de desesperança, que necessita, com urgência, de um exemplo político que possa neles reascender a chama da cidadania, do civismo e da confiança na Pátria. Existe um hiato extraordinário entre o discurso dos dirigentes, em qualquer escalão do poder - de um país próspero, de órgãos hierarquizados e poderosos, com ministérios e secretarias voltadas
para o bem comum - e a realidade objetiva, de uma população despojada, na prática, de seus direitos mais elementares em uma sociedade livre, ou seja, o direito a educação e a saúde e, para uma grande parte dela, o direito a uma sobrevivência com um mínimo de dignidade a que faz juz a criatura humana.

 Já é tempo que surja uma NOVA POLÍTICA, voltada, realmente, para a sociedade que pretende representar e não dela desligada, lutando, apenas, os seus elementos entre si, numa ultrajante troca de favores, que visam, sempre e exclusivamente, a manutenção dos seus privilégios, enquanto a comunidade assiste, com tristeza, ao
desvanecimento dos seus próprios sonhos de construção de uma sociedade livre que pode caminhar para o futuro.

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