A FARSA DO REAL

A inflação é um processo em que os preços vão aumentando progressivamente em função de diversos fatores.  No Brasil, como mais de dois terços da população vivem numa economia de subsistência, é completamente falsa a tese de que a inflação brasileira é uma inflação de demanda, de consumo.  A inflação brasileira é uma inflação de custos.

Como, no custo final de um produto, estão sempre embutidos os impostos e as taxas de juros, é teoricamente impossível acabar com a inflação mantendo-se tão elevados os impostos e tão gigantescas as taxas de juros.

Qual foi então o milagre do plano real? Que projeto maquiavélico, diabólico, foi esse que, sem mexer nas verdadeiras razões da inflação - taxas de juros e impostos elevadíssimos - está conseguindo mantê-la em
níveis próximos de 1% ao mês?

O governo, num passe de mágica, fez o real valer mais que o dólar.

Diminuiu as tarifas de importação. Com o dólar barato e tarifas baixas, inundou-se o mercado com produtos importados, com verdadeiras quinquilharias.

A indústria nacional foi obrigada a manter os preços baixos, para poder concorrer com os preços dos produtos importados.

Se os custos das empresas tivessem sido repassados para os produtos, elas perderiam o mercado, cheio de importados.

E, assim, começou o processo, o câmbio puxando a inflação para baixo.

Houve uma perda salarial desde o momento da instalação do plano, avaliada em torno de 30% na virada da U.R.V. para o Real. Não havendo aumento de salários, entrou em cena o segundo elemento puxando a inflação para baixo.

Com as taxas de juros mantidas no alto, ficou quase impossível, para os agricultores, o pagamento dos empréstimos contraídos - lembram da carreata a Brasília?

Se os agricultores repassassem os custos para os produtos agrícolas, perderiam mercado, porque o governo também importou alimentos, baixando as tarifas para o nível daquelas da Argentina.

Então entrou no cenário o terceiro elemento puxando a inflação para baixo: os preços agrícolas baixaram, porque senão seria impossível, para os agricultores, venderem seus produtos.

O governo não tocou, nem de leve, nos impostos e no ponto nevrálgico - as taxas de juros.

A questão crucial da inflação brasileira, escondida pela Imprensa, é a alta taxa de juros com que se pagam os títulos da Dívida Mobiliária.

Por exemplo, em 1996 pagou-se, de juros, a cifra espantosa de 23,6 bilhões de dólares.  São cerca de 2 bilhões de dólares por mês 66 milhões de dólares por dia. 2,7 milhões de dólares por hora. Estes números são astronômicos.

Se o senhor ganha R$ 300,00 por mês, bem mais que um salário mínimo, o senhor precisaria trabalhar "apenas" 750 anos para ganhar o que o Brasil paga em uma hora de juros - somente juros.

Aí vem o governo e diz que tem que privatizar as estatais para diminuir a Dívida Interna.  Acontece que já se venderam inúmeras estatais, incluindo-se dois gigantes - a Companhia Siderúrgica Nacional e a Usiminas, e a Dívida Interna vem crescendo.  A Dívida Mobiliária era 1994, cerca de 50 bilhões de dólares. Em 1997 já era de cerca de 180 bilhões de dólares.

Do que adiantou vender as estatais?

Venderam a Excelsa, do Espírito Santo, por 250 milhões de dólares, que serviram para pagar 3 a 4 dias de juros, vejam bem, só juros!!!  Venderam também a Vale do Rio Doce, detentora de um patrimônio incalculável, dona do subsolo mais rico do planeta.

Venderam o seu controle por 3,338 bilhões de dólares, o que não deu para pagar 2 meses de juros. (Na realidade, os 3,338 bilhões de dólares nem chegaram a entrar...)

Estão vendendo, entregando, dando de mão beijada toda a riqueza que é de nossos filhos, de nossos netos.
E a dívida só vai aumentando. Hoje já está em 180 bilhões de dólares.

O plano diabólico conseguiu também quebrar os bancos estaduais.

E lá vão o Banerj, o Banespa, e outros, que não conseguem pagar os juros - sempre os juros!!!
Querem privatizar até a previdência, dizendo que ela dá prejuízo.

Mas isso também é mentira.  Nos últimos 10 anos, a Previdência só deu prejuízo 2 vezes, em 1984 e 1988, É uma estrutura altamente lucrativa, e por isso eles querem privatizá-la.

É apenas mais um lugar onde o polvo quer estender mais um de seus tentáculos.

Eles dizem que as taxas de juros têm que ser mantidas altas para atrair capitais, porque existe um déficit público. Mas não dizem que só existe déficit público por causa do pagamento das altas taxas de juros.
É o cachorro correndo atrás do seu próprio rabo.

Baixando-se as taxas de juros, baixando-se o serviço da Dívida, não há déficit. Mas isso a Imprensa não diz e nem publica.

Até quando a Agricultura vai agüentar? E a próxima safra já foi menor.

Até onde as diversas classes trabalhadoras vão suportar as perdas salariais?

Até que nível vão fazer descer a atividade industrial?

Quantos milhões a mais de pessoas estarão desempregadas? Já são mais de 10 milhões de desempregados.

E o senhor, comerciante, até quando vai agüentar? O senhor, que ganha um salário mínimo, que ganhou sempre apenas para comer, comendo mal, o senhor é capaz até de jurar que está tudo bem!

Porque o seu dinheiro, que se volatilizava antes do plano, aparentemente agora rende na sua mão.
Isso é verdade!

Mas o que o senhor não sabe, porque eles não deixam o senhor saber, é que a situação atual está sendo artificialmente mantida. Mais à frente, o plano vai estourar, com certeza.

Não dá para precisar em que momento isso vai ocorrer.

Eles já quebraram a Agricultura. Criaram uma inadimplência monstruosa, levando a um nível absurdo os títulos protestados, as concordatas e as falências.  Não por culpa dos devedores, mas pela impossibilidade absoluta de quem trabalha, de quem produz, concorrer com a agiotagem institucionalizada pelo Governo e aplaudida pela Imprensa.

O plano é destruidor, cínico e desumano.

Destruidor, porque está deteriorando toda a atividade produtiva do país.

Cínico, porque se apresenta como a salvação, quando na verdade está levando nosso povo para o abismo.

Desumano, porque, à semelhança do que estão fazendo com a Argentina, com o México e toda a América Latina, faz crescer, em todos os cidadãos, a falta de confiança no trabalho, no governo, nas pessoas e no futuro da nação.

ESTA É A VERDADE SOBRE O PLANO REAL

  
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